Sempre que rumamos a um
destino de moto, no retorno temos por hábito entrar nas cidades que beiram as
rodovias, para conhece – las. Normalmente vamos até a praça central, tiramos
umas fotos, paramos em uma lanchonete pra um lanchinho, conversamos com moradores
para saber mais sobre a cidade e se achamos legal colocamos na agenda para uma
visita próxima.
Numa dessas viagens, retornando de um Encontro Motociclístico, em Passa Tempo, resolvemos adentrar numa pequena
cidadezinha que eu já havia ouvido falar por ter tido colegas de faculdade de
lá. De cara gostei da paisagem da estrada que nos leva a cidade: estrada boa,
muito verde e logo na entradinha uma ponte muito estreita sobre o Rio Jacaré.
Combinamos de voltar outro dia.
Trata- se de SANTANA
DO JACARÉ, uma cidadezinha encravada no alto do Rio Grande, na região
sudoeste de Minas Gerais, conhecida por suas tradicionais festas religiosa. Com
apenas 107,445 km² de
área, Santana do Jacaré possui uma posição geográfica privilegiada,
que liga a região do Sul de Minas a duas das três principais capitais da
Região Sudeste (212 km de Belo Horizonte e 410 km de São Paulo), tendo como
municípios vizinhos Perdões, Cana Verde, Campo Belo, Candeias, Santo Antônio do
Amparo e São Francisco de Paula. O município conta com uma população de
aproximadamente 4 613 hab. (Censo IBGE/2010) e como muitas cidades do
interior das Minas Gerais, nasceu do pouso de tropeiros e desbravadores,
nas margens do rio Jacaré, fazendo surgir a primitiva paragem "Mata do
Jacaré". Assim teve início, num período entre 1750 e 1789, a história do
pequeno povoado do "Mato do
Jacaré de Tamanduá". Em 28 de setembro de 1887, a lei provincial de
número 3442, elevou o distrito à freguesia. Nessa ocasião o povoado aparece com
a denominação de Santana do Jacaré, em homenagem talvez, à sua padroeira
Sant'Ana.
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Chegando em Santana do Jacaré |
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Entrada da cidade |
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Praça da Igreja de Nossa Senhora de Sant'Ana |
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Igreja do Rosário |
Porém, uma curiosidade nos chamou a atenção neste lugar.
Ouvimos dizer que na época do carnaval, acontece em Santana do Jacaré a
centenária CAVALHADA (de domingo à terça-feira). Trata – se
de uma encenação de origem portuguesa que representa os torneios e as
batalhas medievais entre cristãos e mouros, em especial a
batalha do século VI, onde Carlos Magno, um guerreiro Cristão travou uma
batalha épica contra os sarracenos, de religião islâmica, pela defesa de um
território. Logo após a encenação, vem o momento mais esperado da
tarde, a disputa entre todos cavaleiros por sorteio para retirada da bandeira
do Brasil. O cavaleiro precisa acertar a ponta de sua lança num anel de 10 cm
de diâmetro que segura a bandeira do Brasil no alto de 3 metros. A retirada da
bandeira é o momento alto da festa. Em 2015 a cavalhada completa 109 anos no
município.
Vestidos a caráter em trajes medievais, os cavaleiros, vestidos de azul representado os
cristãos e de vermelho representando os mouros e, armados de lanças e espadas, doze
cavaleiros de cada lado da batalha encenam o torneio em um campo de futebol,
onde em todo o seu perímetro desenvolvem coreografias muito bem ensaiadas que
arrancam aplausos do público munícipes e
visitantes. O entusiasmo é tão grande que há torcidas e apostas em dinheiro em
qual cavaleiro vencerá o torneio. O vencedor além de prêmio que recebe é “paparicado”
durante todo o ano até o próximo torneio. São também eleitas Rainha e Princesa
da Cavalhada que abrem o
torneio e dão o desfecho da história. Além
de puxarem os cavaleiros é papel delas entregar os ramalhetes no final do
torneio a todos os combatentes, simbolizando a paz entre os dois grupos. Inicialmente há um desfile pela cidade, com uma banda instrumental tocando marchinhas de carnaval a frente, seguidos pelas rainha e princesa da cavalhada e um cavaleiro, os 24 cavaleiros e cavalos atrás, devidamente ornamentados seguidos pela população de carro ou a pé.
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Desfile pela cidade |
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Cavaleiro representante dos Cristãos |
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Cavaleiro representante dos Mouros |
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Encenação dos cavaleiros |
As Cavalhadas foram
introduzidas no Brasil pelos padres jesuítas durante a catequização dos índios
e escravos. Um de seus registros mais
antigos remonta às festas públicas promovidas pelo Conde João Maurício de
Nassau, no Recife, em janeiro de 1641, quando da comemoração pela proclamação
da restauração de Portugal do jugo espanhol e pela aclamação de D. João
IV.
A partir daí a cavalhada espalhou-se pelo Brasil, principalmente em cidades das regiões centro-oeste,
sudeste e sul do país. Dentre as mais
conhecidas são as da cidade de PIRENÓPOLIS, no estado de Goiás e de POCONÉ, em
Mato Grosso. Em Minas Gerais elas acontecem também em BONFIM, Ouro Preto
(AMARANTINA), SANTANA DO JACARÉ e outras. Segundo a história local, foi o Padre Correa,
em 1906, que trouxe a tradição portuguesa para a cidade com o objetivo de
simbolizar a evangelização no local. Posteriormente, o Capitão Saturnino
Cardoso, que era aquele que “mandava na cidade”, manteve a batalha que, na
verdade representa a paz nesta época de carnaval e em todas as outras.
Fontes: