terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

CAVALHADA: uma tradição secular no Carnaval

    Sempre que rumamos a um destino de moto, no retorno temos por hábito entrar nas cidades que beiram as rodovias, para conhece – las. Normalmente vamos até a praça central, tiramos umas fotos, paramos em uma lanchonete pra um lanchinho, conversamos com moradores para saber mais sobre a cidade e se achamos legal colocamos na agenda para uma visita próxima.
            Numa dessas viagens, retornando de um Encontro Motociclístico,  em Passa Tempo, resolvemos adentrar numa pequena cidadezinha que eu já havia ouvido falar por ter tido colegas de faculdade de lá. De cara gostei da paisagem da estrada que nos leva a cidade: estrada boa, muito verde e logo na entradinha uma ponte muito estreita sobre o Rio Jacaré. Combinamos de voltar outro dia.
            Trata- se de SANTANA DO JACARÉ, uma cidadezinha encravada no alto do Rio Grande, na região sudoeste de Minas Gerais, conhecida por suas tradicionais festas religiosa. Com apenas  107,445 km²  de área, Santana do Jacaré possui uma posição geográfica privilegiada, que liga a região do Sul de Minas a duas das três principais capitais da Região Sudeste (212 km de Belo Horizonte e 410 km de São Paulo), tendo como municípios vizinhos Perdões, Cana Verde, Campo Belo, Candeias, Santo Antônio do Amparo e São Francisco de Paula. O município conta com uma população de aproximadamente 4 613 hab. (Censo IBGE/2010) e como muitas cidades do interior das Minas Gerais, nasceu do pouso de tropeiros e desbravadores, nas margens do rio Jacaré, fazendo surgir a primitiva paragem "Mata do Jacaré". Assim teve início, num período entre 1750 e 1789, a história do pequeno povoado do "Mato do Jacaré de Tamanduá". Em 28 de setembro de 1887, a lei provincial de número 3442, elevou o distrito à freguesia. Nessa ocasião o povoado aparece com a denominação de Santana do Jacaré, em homenagem talvez, à sua padroeira Sant'Ana.
Chegando em Santana do Jacaré

Entrada da cidade

Praça da Igreja de Nossa Senhora de Sant'Ana

Igreja do Rosário

            Porém, uma curiosidade nos chamou a atenção neste lugar. Ouvimos dizer que na época do carnaval, acontece em Santana do Jacaré a centenária CAVALHADA (de domingo à terça-feira). Trata – se de uma encenação de origem portuguesa que representa os torneios e as batalhas medievais entre cristãos e mouros, em especial a batalha do século VI, onde Carlos Magno, um guerreiro Cristão travou uma batalha épica contra os sarracenos, de religião islâmica, pela defesa de um território. Logo após a encenação, vem o momento mais esperado da tarde, a disputa entre todos cavaleiros por sorteio para retirada da bandeira do Brasil. O cavaleiro precisa acertar a ponta de sua lança num anel de 10 cm de diâmetro que segura a bandeira do Brasil no alto de 3 metros. A retirada da bandeira é o momento alto da festa. Em 2015 a cavalhada completa 109 anos no município. 
           Vestidos a caráter em trajes medievais, os cavaleiros, vestidos de azul representado os cristãos e de vermelho representando os mouros e, armados de lanças e espadas, doze cavaleiros de cada lado da batalha encenam o torneio em um campo de futebol, onde em todo o seu perímetro desenvolvem coreografias muito bem ensaiadas que arrancam aplausos do público munícipes e visitantes. O entusiasmo é tão grande que há torcidas e apostas em dinheiro em qual cavaleiro vencerá o torneio. O vencedor além de prêmio que recebe é “paparicado” durante todo o ano até o próximo torneio. São também eleitas Rainha e Princesa da Cavalhada que abrem o torneio e dão o desfecho da história.  Além de puxarem os cavaleiros é papel delas entregar os ramalhetes no final do torneio a todos os combatentes, simbolizando a paz entre os dois grupos. Inicialmente há um desfile pela cidade, com uma banda instrumental tocando marchinhas de carnaval a frente, seguidos pelas rainha e princesa da cavalhada e um cavaleiro, os 24 cavaleiros e cavalos atrás, devidamente ornamentados  seguidos pela população de carro ou a pé.


Desfile pela cidade

Cavaleiro representante dos Cristãos

Cavaleiro representante dos Mouros

Encenação dos cavaleiros
   

      As Cavalhadas foram introduzidas no Brasil pelos padres jesuítas durante a catequização dos índios e escravos. Um de seus registros mais antigos remonta às festas públicas promovidas pelo Conde João Maurício de Nassau, no Recife, em janeiro de 1641, quando da comemoração pela proclamação da restauração de Portugal do jugo espanhol e pela aclamação de D. João IV. 
            A partir daí a cavalhada espalhou-se pelo Brasil, principalmente em cidades das regiões centro-oeste, sudeste e sul do país.  Dentre as mais conhecidas são as da cidade de PIRENÓPOLIS, no estado de Goiás e de POCONÉ, em Mato Grosso. Em Minas Gerais elas acontecem também em BONFIM, Ouro Preto (AMARANTINA), SANTANA DO JACARÉ e outras. Segundo a história local, foi o Padre Correa, em 1906, que trouxe a tradição portuguesa para a cidade com o objetivo de simbolizar a evangelização no local. Posteriormente, o Capitão Saturnino Cardoso, que era aquele que “mandava na cidade”, manteve a batalha que, na verdade representa a paz nesta época de carnaval e em todas as outras.
                  É um espetáculo emocionante que, para quem quer algo diferente no Carnaval e/ou dar uma trégua na agitação, vale a pena conferir o evento. Outra característica interessante do município é a acolhida e receptividade do povo santanense. Bom passeio pra quem for.....

Palhaço da cavalhada

Preparados para a competição

Encontro dos cavaleiros

Duelo











































Fontes: