O ano é 2020. E de repente uma Pandemia
assola o mundo. De uma hora para outra somos obrigados a deixar de trabalhar,
nos recolher em casa e somente sair às ruas mascarados e se houver realmente necessidade.
A doença Covid 19, se propaga e um número crescente de mortes deixa todo um país
amedrontado.
Como não poderia ser diferente também cessam
as viagens e a moto só é ligada uma vez por semana para aquecer o motor. E assim
ficamos quase 2 meses, em casa, sem rodar.
Meu querido não via a hora de poder
retornar às estradas, sentir o vento no rosto e o cheiro do asfalto. Rever os
amigos, conhecer lugares e viver a tão amada liberdade. No entanto com hotéis,
restaurantes e demais serviços fechados e impedidos de realizarem suas atividades,
era impossível seguir nossos roteiros.
O tempo foi passando e alguns municípios,
devido à sua condição de menor incidência de casos do Covid 19, corona vírus, começaram
um processo de flexibilização, tendo alguns serviços voltando a funcionar.
Aproveitamos para realizar pequenos passeios, bate e volta aos domingos.
Num desses passeios fomos até Fama, uma
pequena cidade, distante 70 km aproximadamente, acompanhados por um simpático
casal de amigos, Denise e Deivison iniciantes no mundo motociclístico. Passamos um domingo
agradabilíssimo, comendo um delicioso peixe no Bar da Rita, melhor point da
cidade, localizado às margens do Lago de Furnas.
Num outro domingo combinamos nos
encontrar com outro casal de amigos de São João del Rey, Patrícia e Wanduarley, que conhecemos na viagem à Foz do Iguaçu. Desta vez o ponto de encontro
seria a Venda do Chico, um restaurante que faz parte de uma rede espalhada por diversos
pontos nas rodovias de Minas Gerais. Um lugar paisagisticamente bonito, com boa
comida e artesanato no qual passamos horas agradáveis.
Infelizmente, mal sabia eu que esta seria
a última viagem JUNTOS. No final de semana do dia das mães meu querido foi acometido
de uma forte dor, que o levou posteriormente a uma cirurgia da qual a recuperação
não foi possível. Meu guerreiro lutou bravamente, mas era chegada a hora. No
sábado, dia 23 de maio, ele troca as duas rodas pelo par de asas e segue por
caminhos celestes.
Você partiu levando um pedaço de mim, meu amor, mas, tudo que
vivemos segue vivo dentro do meu coração. Nunca irei esquecer cada momento bom
que passamos. Foram milhares de quilômetros rodados, inúmeros municípios,
distritos e vilas percorridos. Uma perfeita parceria na estrada e na vida
durante quase 12 anos. Eu fecho os olhos e ainda sinto o seu cheiro, ainda
consigo ouvir a sua voz, ainda sinto o seu amor. Sinto tantas saudades de você...
Mas, apesar da tristeza, da saudade e do vazio tenho o
coração leve e a sensação de missão cumprida. Estive ao seu lado até o fim,
cuidando de você que sempre cuidou de mim. Foi sepultado no dia 24 de maio de 2020, às 10 horas da manhã e teve uma belíssima homenagem realizada pelos irmãos motociclistas de Boa Esperança, Três Pontas, Varginha e outras localidades. Sei que ficou muito feliz pois amava esse universo motociclístico.
E quanto às aventuras continuarei os relatos, pois há muito boas
histórias que ainda não foram contadas, lugares que visitamos e quilômetros percorridos
que precisam ser compartilhados.
Segue teu caminho Estradeiro! Dizem que “motociclistas
não morrem. Simplesmente partem para uma
longa viagem, num bonde de motocicletas aladas, em companhia dos anjos”.