Em outubro, semana do saco cheio, que para
quem não sabe é uma semana de recesso escolar
adotada por vários colégios e universidades no Brasil entre
os feriados de Nossa Senhora
Aparecida (12) e o dia dos professores (15),
nos deparamos com a dúvida: para onde ir? Buscamos algumas sugestões de
roteiros interessantes, mas foi num evento motociclístico em Campo Belo que
conhecemos um casal de Juiz de Fora, que nos falou de um lugar legal (Conservatória
– RJ) que chamou minha atenção. Pesquisei o local e região e pronto o roteiro
estava montado.
Decidimos sair no dia 14, com destino a Santa Rita de
Jacutinga, a 32 km de Conservatória –
RJ, e cidade onde se localiza a Fazenda
Santa Clara, palco da novela Terra Nostra, objetivos maiores de nossa
viagem.
A viagem foi maravilhosa, saímos não muito cedo, apesar
de feriado as estradas estavam muito tranquilas, quase sem trânsito. Após 304
km estávamos em Santa Rita de Jacutinga. Feito o chekin na Pousada O Meu Canto,
fomos fazer o reconhecimento da cidade.
Santa Rita de Jacutinga é uma
pequena cidade da Zona da Mata mineira, com aproximadamente 5000 habitantes,
conhecida como a cidade das cachoeiras, 72 pra ser mais exato. Possui uma Igreja Matriz com sua
deslumbrante arquitetura, e a capela de Nossa Senhora Aparecida, popularmente
conhecida como a igrejinha do alto.
Possui
nos seus arredores várias fazendas antigas, sendo uma delas a Fazenda Santa Clara, antiga fazenda da
época da escravidão que mantém até hoje sua arquitetura original além de muitas
curiosidades, um passeio que fizemos e recomendamos.
Apesar
de seu elevado potencial turístico, a cidade não possui muitas opções de
empresas de passeios
turísticos, nem muita infraestrutura. Mas como “quem tem boca vai a Roma”, buscamos as
informações necessárias e aproveitamos bem os dias em que estivemos lá.
Primeiro
fomos a Conservatória - RJ. A cidade, hoje um charmoso distrito do município de
Valença cujas diversas histórias justificam a origem do nome, sendo que a mais
corriqueira diz que o lugar era conhecido como "Conservatório dos índios
Araris", um lugar de excelente clima e protegido por montanhas, onde os
Araris se recolhiam para se recuperar de doenças que dizimavam as tribos e
local no qual resolveram se instalar definitivamente.
A
prosperidade e riqueza vieram com a expansão da cultura do café, que utilizou
largamente o trabalho escravo. As centenárias construções da vila, em estilo
colonial, algumas do século XVIII, até hoje preservadas, evidenciam sua origem
e algumas, inclusive, ainda ostentam telhas de época, feitas na coxa dos
escravos. As ruas principais mantêm as pedras de pé-de-moleques originais da
construção. O estilo colonial inspirou e serviu de cenário para vários romances
famosos novelescos como Escrava Isaura, O Feijão e o Sonho, Sinhazinha Flô,
Cabocla, Aquarela do Brasil, entre outros.
A
prosperidade econômica do final do século XIX deu início à outra tradição na
vila: a das serenatas - a música cantada sob o sereno -, que hoje atraem mais
de mil pessoas a cada fim-de-semana para a cidade, vindas dos mais diversos
recantos do país e do exterior. Um dos
grandes motivadores da tradição da música na cidade é o Museu da Seresta, que
tem o maior acervo de músicas de serestas do país - e um dos maiores do mundo
-, criado pelos irmãos Joubert e José Borges.
Porém
uma curiosidade: a cidade só funciona nos finais de semana. Tem uma programação cultural intensa, o ano
todo, mas somente em finais de semana.
De
lá fomos a Valença, uma cidade pertencente à região do Vale do Café. A cidade
em si não tem muitos atrativos, porém as curvas e paisagens por quais passamos
são de uma beleza inenarrável.
Como
não conseguimos uma agencia de turismo para nos conduzir até a Fazenda Santa
Clara, cujo acesso é estrada de terra, fomos e voltamos de taxi. Pra mim foi o ponto
alto do passeio, um mergulho na história de um Brasil que nunca ouvimos falar
nas aulas de História.
A
fazenda Santa Clara é uma propriedade rural com 6000 m² de construção que data
do início do século XIX. Fundada por
Francisco Tereziano Fortes de Bustamente e construída pelas mãos de escravos, hoje
pertence aos descendentes de João Honório, um deles D. Adélia, uma senhora que
com muita propriedade nos apresenta a Fazenda e dá uma aula de História jamais
vista. Deve ser uma das maiores construções coloniais
rurais ainda existentes. Curiosamente possui 365 janelas (algumas falsas), 52 quartos, 12 salões, uma capela, um terreiro de café, senzala, masmorra, um mirante e outras dependências apropriadas. A masmorra
foi concebida com solidez tal que impedisse fugas. No mirante, construído para
vigiar a propriedade do alto, foi instalado um grande relógio alemão, fabricado
em 1840 e
ainda funcionando, o primeiro com números indo - arábicos. Segundo fontes por
ela passaram mais de 2800 escravos. A fazenda foi utilizada como cenário dos
seriados de televisão "Abolição",
veiculado em 1988, e da novela "Terra Nostra", exibida em 1999.
Segundo
D. Adélia foi “tombada” pelo patrimônio Histórico, mas pelas condições foi
realmente para tombar e ir ao chão, pois esse tesouro da nossa história se não
tiver um sério investimento ruirá.
Como já tínhamos concluído nosso objetivo, pegamos a estrada mais uma vez, com destino a Cruzília, berço da raça do cavalo Manga-larga Marchador, conhecer o seu Museu e obter mais um carimbo do Passaporte Estrada Real. A viagem novamente foi maravilhosa, a estrada era nossa! Paramos no Mirante do Pacau, de onde se avista uma linda cachoeira do mesmo nome e um antigo túnel ferroviário. Logo chegamos a Cruzília, fomos direto ao museu onde carimbamos o passaporte e depois de um delicioso almoço com direito a sobremesa de mousse de abacaxi, voltamos pra casa, super felizes com o maravilhoso passeio fonte de lazer, conhecimentos históricos e novas amizades com a turma do “Flashbrega” do Rio de Janeiro.
Para saber mais: