quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Inverno em Sabará e no Santuário da Serra da Piedade


O inverno deste ano foi um pouco mais rigoroso e por esse motivo atrasou as aventuras de férias dos Estradeiros. Assim, no último final de semana antes do meu retorno ao trabalho fizemos uma viagem que já havíamos planejado a tempos e por um motivo ou outro adiávamos sempre.
O destino principal era conhecer o Santuário da Serra da Piedade. Porém agregamos à viagem a cidade de Sabará, que além de próxima era a última cidade histórica do ciclo do ouro que ainda não conhecíamos.
Assim saímos no dia 27 de julho, bem cedinho. Pegamos a Rodovia Fernão Dias e por ela seguimos até quase o destino. Como todo inverno, o dia estava limpo, céu azul, a temperatura estava moderada e a rodovia com pouco movimento.
Fizemos nossas paradas habituais e com o GPS de boa chegamos em Sabará por volta do meio – dia. Todavia como todas cidades históricas, a pavimentação de pedras dificultou nosso acesso à pousada, mas apesar desse problema e de uma pequena queda da moto, após nosso check-in na Pousada Solar dos Sepúlvedas fomos fazer nosso tour pela cidade. A pousada conserva a arquitetura característica das cidades históricas e é extremamente charmosa, com um café da manhã maravilhoso.





























Sabará tem origem num arraial de bandeirantes que apareceu no fim do século XVII. O povoado cresceu e foi criada a freguesia em 1707, que foi elevada a vila e município em 1711, com o nome de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. É cidade desde 1838. O princípio da história de Sabará está ligado à descoberta de ouro na região, então conhecida como Sabarabuçu e à presença de Borba Gato, que ali permaneceu após a morte de Fernão Dias e que veio a ser o seu primeiro guarda-mor. A cidade possui muitas histórias e lendas, como a que explica porque não se terminou a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a história da noiva e a história do lado, entre outras. Ainda segundo alguns moradores acreditam que a cidade não prospera por praga dos escravos que ali sofreram barbaridades, como o caso da escravinha que  perdeu todos os dentes por puro despeito de sua dona pelo simples fato de D. Pedro  ter achado seu sorriso bonito. 














Sabará possui alguns trechos históricos preservados, especialmente no centro da cidade. Na Rua Pedro II, antiga Rua Direita, encontram-se alguns casarões, especialmente do século XIX. Sabará possui ainda muitos antigos chafarizes, sendo os mais conhecidos o do Kaquende, construído em 1757 na Rua São Pedro, o do Rosário, instalado ao lado da igreja de mesmo nome na Praça Melo Viana e o da Corte Real. Sabará possui um dos mais notáveis acervos de igrejas setecentistas de Minas:
·        *  Nossa Senhora do Ó de 1717, uma das mais representativas do barroco mineiro, possui influência chinesa em sua arquitetura externa e na decoração interna, o seu nome é devido às ladainhas de Nossa Senhora que sempre começam com o Ó e seguem com algum louvor ou agradecimento;
        * Nossa Senhora da Conceição de 1710, matriz da cidade, localizada na praça Getúlio Vargas (cidade antiga);
·              * Nossa Senhora do Carmo de 1763, com várias obras de Aleijadinho;
·       * Nossa Senhora das Mercês de 1781  dos homens pardos, com linhas arquitetônicas simples, sem ornamentações internas, mas localizada em lugar privilegiado na composição da paisagem urbana;
·          *Nossa Senhora do Rosário de 1713, inacabada pelos escravos da irmandade dos homens negros da Barra do Sabará, os quais a construíam e pararam por falta de recursos;
·          * São Francisco de 1781, além de várias capelas.





 


 


Em nossas andanças na sexta-feira à tarde e noite e no  sábado de manhãzinha pudemos conhecer boa parte delas e também o Museu do Ouro, criado pelo então Presidente Getúlio Vargas em 23 de abril de 1945, na antiga Casa da Real Intendência do Ouro de Sabará que foi uma das mais importantes da região das Minas Gerais devido à sua área de abrangência e volume de produção de ouro. Não poderíamos deixar de comentar do almoço delicioso no Restaurante Quintal do Ouro, especialmente da excelente receptividade da proprietária, Cristiane Silva, que gentilmente nos forneceu muitas informações sobre a cidade.









Conforme planejado, no sábado partimos para o município vizinho de Caeté. Uma estradinha extremamente sinuosa que segundo nos disseram possuía mais de 200 curvas. O  passei foi tão bonito que perdi a conta. Fato é que no meio do caminho nos deparamos com uma barragem. De acordo com informações há ainda intensa atividade mineradora na região com extração de ouro. Rapidinho chegamos em Caeté, onde paramos na igreja Matriz para umas fotografias e partimos para o Santuário da Serra da Piedade.




















O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade está localizado a 48 km da capital mineira e a 16 km do município de Caeté e é um cenário de riquíssima beleza natural,  a 1746 metros de altitude. Ideal para a reflexão, oração e o encontro com Deus, o Santuário que abriga a Padroeira de Minas.
Do alto do Santuário, em dias claros, é possível ter uma das mais belas vistas das montanhas de Minas. São 360 graus de panorama, com mil e uma facetas da beleza que só a mãe natureza oferece de maneira tão generosa, inspirando a conduta humana.
Passamos ali uma tarde super gostosa, admirando tamanha beleza, contemplando, orando e refletindo sobre a nossa insignificância nesse mundo maravilhoso com que Deus nos proporcionou. Já no finalzinho da tarde retornamos para Sabará, extasiados com o maravilhoso passeio.

























Para comemorar a viagem perfeita, à noite fomos ao Restaurante 314 Sabarabuçu. Após tomarmos uma cervejinha e comermos um saboroso peixe frito subimos para a Praça Melo Viana onde acontecia um belíssimo show da Orquestra de Ouro Preto com a cantora Fernanda Takai. O projeto denominado “Tom da Takai” está em turnê por Minas Gerais com apresentações gratuitas em praças públicas que levam a Bossa Nova de Tom Jobim e a música orquestrada, um encontro que encantou um grande público que ali estava e esse casal estradeiro.
















Dia seguinte era hora de voltar para casa. Após o café, nos despedimos de Dona Sônia, a dona da Pousada e seguimos nosso caminho. O GPS dessa vez fez gracinha com a minha cara, mas após algumas informações retomamos nossa rota e de tardinha já estávamos em casa cansados mas super felizes com a viagem. Agora é aguardar a próxima aventura.




quinta-feira, 27 de junho de 2019

Pelas estradas do vinho




São Roque - São Roque


            Vislumbrando o feriado de Corpus Christi, começamos a “terrível” tarefa de procurar um destino para mais uma aventura dos Estradeiros. Após algumas buscas decidimos fazer a Rota do Vinho, destino este conhecido por meio da minha querida amiga de São Bernardo, Zélia Gatti. Traçada a rota, seriam aproximadamente 500 km até São Roque, município distante  60 Km da capital de São Paulo, com vias de acesso pelas rodovias Raposo Tavares e Castello Branco.
            A cidade de São Roque foi fundada em 1657 e recebeu esse nome devido a devoção do seu fundador a este santo. A cidade serviu como parada de bandeirantes que desciam o Rio Tietê e teve seu grande impulso de crescimento com a chegada dos imigrantes italianos e portugueses, que iniciaram a plantação de vinhedos, tornando a vitivinicultura umas das principais atividades econômicas da cidade. 
            Partimos bem cedinho no dia 20 de junho, quinta feira. Tivemos a sorte do fluxo maior de veículos estar na pista contrária e assim fomos tranquilos e solitários pelas rodovias Fernão Dias, Dom Pedro I, Rodovia do Açúcar,  Rodovia Dr. Celso Charuri, Rodovia Raposo Tavares, entre outras, fazendo nossas habituais paradas para um café, um lanche ou só mesmo para dar uma esticadinha e após quase 8 horas chegamos ao nosso destino. O GPS desta vez foi “mui” amigo e não vacilou por nenhum momento, nos levou certinho à porta do Hotel Villa Maior, excelente hotel onde nos hospedamos por estes dias.















          
        Tomamos um delicioso café numa cafeteria do Estância Supermercados e depois de descansar, tomar um bom banho fomos procurar um restaurante para o jantar. Encontramos uma Pubzinho superlegal, chamado MAD MAX Rock in Burger onde experimentamos uma deliciosa Quesadilla com Guacamole e um saboroso Chope artesanal, num ambiente agradável com música ao vivo de qualidade.





            O despertar no dia seguinte nos trouxe uma notícia muito triste: a morte de um grande amigo e compadre de Antônio Carlos. Levamos um tempo para nos recuperar do susto e da negação. Dias antes, quando pesquisávamos sobre o lugar e seus atrativos havíamos combinado de comprar um bom vinho para este nosso amigo, enófilo (foi ele mesmo quem nos explicou a diferença entre este é o enólogo e disse ainda que “um bom vinho é aquele que se põe na boca e gosta”) com quem passávamos bons momentos com prosa boa, relatos de viagens e “causos” da vida real. Diante do dilema da distância, por estarmos de moto e muito abalados, decidimos continuar o nosso passeio e fazer deste texto nossa última homenagem e despedida.
            Ricardo Arnaldo  Malheiros Fiuza, esposo, pai, jurista, professor, escritor, jornalista e tantos outros adjetivos e complementos insuficientes para descrever o grande homem e amigo com quem tivemos o privilégio de conviver. Nos despedimos com uma citação de Fernando Pessoa, seu entrevistado em um de seus livros, Conversa/entrevista com Fernando Pessoa, 2ª edição de 2014: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Momentos agradáveis na varanda do seu sítio em B.E.












Lançamento do livro biográfico de Nelson Freire em B.E.

Autografando mais um de seus livros com os quais sempre nos presenteava.
            Apesar da dor em nosso coração, da saudade já sentida, seguimos adiante. Fomos conhecer a famosa estrada do vinho, motivo maior de nossa viagem. Por ela seguimos por seus 10 quilômetros em meio a Mata Atlântica com complexos de gastronomia e entretenimento através de restaurantes, vinícolas, adegas, destilarias, cafeterias, chocolateiras e muito mais. Como eram muitas priorizamos as imperdíveis: Vila Don Patto, Vinícola Goes, Vila Canguera, Destilaria Stoliskoff e Quinta do Olivardo, a minha preferida! Todas com ambientes superagradáveis, um visual deslumbrante e com muita coisa gostosa. Destaco aqui a culinária portuguesa da Quinta do Olivardo com a Espetada Madeirense e o Pastel de Belém. Com características genuinamente portuguesas, aguçou ainda mais a nossa lembrança do amigo Ricardo que como ninguém amava Portugal país onde residiu por um tempo e inclusive tinha cidadania. A capelinha da Quinta nos remeteu à Capela “Santa Marinha” de seu sítio em Boa Esperança. Entre a degustação de vinhos e sucos de uvas e muitas fotos concluímos esse roteiro.



                                                       VILLA DON PATTO



















VINÍCOLA GOES







VILA CANGUERA















STOLISKOFF


QUINTA DO OLIVARDO



















No sábado, fomos conhecer pontos turísticos da cidade: a Igreja Matriz de São Roque, que é a maior igreja dedicada a este santo no Brasil,  construída em 1935 e considerada como umas das igrejas mais bonitas do Estado de São Paulo. As pinturas na parede e no teto são dos artistas plásticos italianos, irmãos Gentili e os vitrais em mosaico retratam a passagem da vida de São Roque. Lá rogamos a Deus paz e conforto aos familiares de Ricardo e seu descanso eterno na luz. Conhecemos o Ski Montain Park, um complexo de lazer excelente para toda família, com diversas atividades: esqui, snowboard, tobogã, arco e flecha, arvorismo, passeio a cavalo, patinação e teleférico e muito mais. Conhecemos a Brasital, onde no passado funcionou umas das primeiras fábricas de tecelagem em São Paulo fundada em 1890, sua importância pra São Roque é tão grande que chegou a empregar 80 % da mão de obra disponível, as operações se encerraram em 1970. Atualmente funciona como centro cultural que conta com biblioteca, oficinas culturais e profissionalizantes e uma trilha ecológica não sinalizada, o conjunto arquitetônico ocupa um total de mais de 9.000 metros quadrados. Andamos pelas ruas movimentadas e com um comércio diversificado. A noite fomos comer e nos deparamos com a Lanchonete WP Lanches bem próxima ao hotel que recomendamos, pois além de ter um cardápio variadíssimo com inúmeras opções, tem um pessoal de Montes Claros extremamente agradáveis e solícitos.

SKI MONTAIN PARK













Igreja Matriz de São Roque

Brasital - Antiga indústria têxtil hoje centro cultural


































                 

Dia seguinte era hora de retornar. Tomamos café e pegamos a estrada de volta pra casa. Mais uma vez tivemos a sorte (que eu chamo de providência divina) de pegar as rodovias limpas e tranquilas, céu azul e GPS amistoso. Depois de 1.025 km estávamos em casa.

Não fosse a tristeza da perda irreparável teria sido perfeito para nós, mas fica a dica de um lugar super interessante para se conhecer.