Retorno a Brumadinho e o Topo do Mundo

Brumadinho 2013

Brumadinho 2019

O rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, resultou em um dos maiores desastres com rejeitos de mineração no Brasil. Estava localizada na região de Córrego do Feijão,  no município brasileiro de Brumadinho, a 65 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais e resultou na morte de mais de 250 pessoas.

Estivemos em Brumadinho, em 2013, para conhecer o  Instituto Inhotim,  sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior museu a céu aberto do mundo. Com uma diversidade botânica inigualável e rico acervo de arte contemporânea é um espaço deslumbrante que encanta a quem o visita e felizmente nada sofreu com o rompimento da barragem.

Agora em 2019, em outubro passado, 9 meses após o fatídico acidente, retornamos a Brumadinho. Nosso objetivo maior era de lá ir até um Restaurante no alto da Serra da Moeda, antigamente conhecido como Topo do Mundo. Mas também queríamos ver de perto o pós-trauma, como a cidade estava após o rompimento da barragem.

Saímos no dia 19 de outubro, pegamos a Fernão Dias e após umas 4 horas já entrávamos em Brumadinho. A primeira diferença que observamos foi o trânsito que estava bem movimentado e sofrera mudanças. Nos hospedamos no charmoso Hostel Lares. Localizado bem no centro, próximo a bares e restaurantes, um espaço muito agradável e acolhedor. Me encantei com as cores, decorações e uma forma dos hospedes deixarem mensagens. Deixamos nós também a nossa. Super recomendo! Nas conversas que tivemos com a simpática proprietária ela nos relatou todo o drama sofrido pelas pessoas desde o acontecido. Mesmo tendo acompanhado pela TV todo o desenrolar dessa tragédia, não temos uma noção mais nítida do que ouvir e ver os relatos pessoalmente! As pessoas seguem, tocam suas vidas, mas os olhares revelam uma profunda dor e tristeza.

Após nosso check in no caminho para o Topo do Mundo, passamos por estradas onde a lama arrastou construções, pontes e modificou a paisagem. Estão reconstruindo, um movimento incessante de caminhões e o verde se recompondo.

Depois de 30 km de muita curva, estrada estreita chegamos ao Topo do mundo que agora se Chama Restaurante Horizontes. E realmente só foi possível chegar gracas à habilidade do piloto e a cooperação da co-piloto (eu), porque  é muito alto e íngreme com acesso estreito e muito movimento de vai e vem de veículos. O espaço do restaurante é muito lindo, engenhosamente construído sobre imensos blocos de pedras e nos presenteia com uma vista maravilhosa. Oferece pratos diversos e sofisticados para todos os bolsos e gostos. Depois de um lanche fomos andar pelo lugar. Ao lado do restaurante tem a Rampa de Parapente. Muitas pessoas realizavam voos, na ocasião e nossas fotos só não ficaram mais bonitas porque do outro lado um incêndio consumia a Serra e a fumaça intensa impedia - nos de tirar belas fotos. Assim tiramos algumas e retornamos a Brumadinho.

Ao cair da noite saímos para nos refrescar e fomos até um Barzinho recém-aberto, para motociclistas. Andamos de uber pelas ruas e pudemos observar que a vida segue, apesar da dor e do infortúnio para aqueles que ali permanecem. Outros que tiveram perdas irreparáveis deram adeus à cidade.

No dia seguinte, após o delicioso café preparado carinhosamente pela proprietária, nos despedimos e retornamos para casa, desejosos de que a esperança de dias melhores e mais alegres para essa gente não tenha sido levada pela lama.

Cult Beer e Encontro de Harleyros em Carrancas

Aconteceu em Carrancas, na última semana um intenso movimento cultural, com vários eventos: o Circuito de Culturas Cervejas Artesanais e Gastronomia – Cult Beer, a Mostra de Cinema, a Itinerância do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, o Festival de Teatro e o Encontro de Harley Davidson em parceria com os Harleyros de Lavras. Realizados na praça Manoel Moreira os nativos e turistas puderam se deliciar com várias cervejarias e uma programação completa de shows, exposições, oficinas, gastronomia e intervenções culturais. Com esse cardápio de eventos os Estradeiros pegaram a estrada no fim de semana e foram lá para conferir.

Saímos de casa bem cedo no sábado e depois de pouco mais de 150 km, chegamos à cidadezinha. Uma estrada sinuosa nos leva até o alto da serra, de onde é possível avistar as torres da igreja e a pequena cidade rodeada pelas montanhas. A vista inebria pelo verde e pela efusão de vegetações distintas – pedaços de floresta se juntam à mata rasteira e à vegetação próxima do Cerrado para formar o cenário perfeito para o ecoturismo. São dezenas de atrações naturais, entre cachoeiras, poços, grutas e escorregadores naturais.  A quantidade de nascentes, quedas d’água e atrações refrescantes dão a Carrancas o título de “A Terra das Cachoeiras”, conhecida nas capitais e nas cidades da região.

Primeiramente fizemos o check in na Pousada Senna, uma hospedagem simples, mas muito familiar e com boa relação custo/benefício. A disposição dos quartos na pousada permite uma maior interação entre os hóspedes (recomendo). Na cidade há inúmeras opções de hospedagens para todos os gostos e bolsos. Como já se aproximava a hora do almoço fomos procurar um restaurante. Nossa escolha nesse dia foi o Restaurante Recanto. Ficamos admirados com os ambientes, a comida e os diferentes espaços: restaurante, Pizzaria, Sorveteria e segundo o proprietário, um empresário bastante amistoso e simpático,  à partir de outubro, uma Cafeteria, o qual também recomendamos. Nos fartamos e fomos descansar. Um pouco mais tarde subimos para a praça onde o pessoal começava a chegar. Fomos recepcionados por um dos organizadores do evento, o Montanha, que fez nossa inscrição e nos presenteou com um belíssimo troféu de um artista de Ouro Preto. Depois fomos conhecer as cervejarias participantes, a feira e produtos em exposição e um pequeno tour e muitos cliques.

Retornamos à Pousada para um banho e voltamos à praça para curtir a festa e foi aí que começou a ficar melhor. Conhecemos dois casais de Lavras, superbacanas: Lamounier e Libertad e Elivelton e Natália e juntos curtimos a noite. Eles nos apresentaram à outros motociclistas e o círculo de amizades foi só expandindo. Domingo cedo já estávamos juntos novamente após o café na pousada, onde conhecemos outro casal simpatia, Lu e Haroldo. Subimos para a praça e outros Harleyros foram chegando com o ronco de suas máquinas, num clima de descontração e logo estávamos todos proseando, trocando adesivos, admirando as motos e registrando o momento.

Fomos convidados para um almoço idealizado pela organização no restaurante Nômade, um espaço superbacana, bem rústico e natural, bem ao estilo de Carrancas. Uma turma animada se reuniu para almoçar e apesar do almoço,  foi uma tarde de muita prosa boa, interação, troca de informação, muitas fotos, prática que o motociclismo sempre nos proporciona. Trocamos contato e o desejo de nos reunirmos novamente. Nos despedimos e seguimos com um grupo até Lavras. Voltamos pra casa com o coração cheio de alegria e o desejo de mais dias como esses com novos encontros com pessoas especiais.

  

Inverno em Sabará e no Santuário da Serra da Piedade

O inverno deste ano foi um pouco mais rigoroso e por esse motivo atrasou as aventuras de férias dos Estradeiros. Assim, no último final de semana antes do meu retorno ao trabalho fizemos uma viagem que já havíamos planejado a tempos e por um motivo ou outro adiávamos sempre.

O destino principal era conhecer o Santuário da Serra da Piedade. Porém agregamos à viagem a cidade de Sabará, que além de próxima era a última cidade histórica do ciclo do ouro que ainda não conhecíamos.

Assim saímos no dia 27 de julho, bem cedinho. Pegamos a Rodovia Fernão Dias e por ela seguimos até quase o destino. Como todo inverno, o dia estava limpo, céu azul, a temperatura estava moderada e a rodovia com pouco movimento.

Fizemos nossas paradas habituais e com o GPS de boa chegamos em Sabará por volta do meio – dia. Todavia como todas cidades históricas, a pavimentação de pedras dificultou nosso acesso à pousada, mas apesar desse problema e de uma pequena queda da moto, após nosso check-in na Pousada Solar dos Sepúlvedas fomos fazer nosso tour pela cidade. A pousada conserva a arquitetura característica das cidades históricas e é extremamente charmosa, com um café da manhã maravilhoso.

Sabará tem origem num arraial de bandeirantes que apareceu no fim do século XVII. O povoado cresceu e foi criada a freguesia em 1707, que foi elevada a vila e município em 1711, com o nome de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. É cidade desde 1838. O princípio da história de Sabará está ligado à descoberta de ouro na região, então conhecida como Sabarabuçu e à presença de Borba Gato, que ali permaneceu após a morte de Fernão Dias e que veio a ser o seu primeiro guarda-mor. A cidade possui muitas histórias e lendas, como a que explica porque não se terminou a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a história da noiva e a história do lado, entre outras. Ainda segundo alguns moradores acreditam que a cidade não prospera por praga dos escravos que ali sofreram barbaridades, como o caso da escravinha que  perdeu todos os dentes por puro despeito de sua dona pelo simples fato de D. Pedro  ter achado seu sorriso bonito. 

Sabará possui alguns trechos históricos preservados, especialmente no centro da cidade. Na Rua Pedro II, antiga Rua Direita, encontram-se alguns casarões, especialmente do século XIX. Sabará possui ainda muitos antigos chafarizes, sendo os mais conhecidos o do Kaquende, construído em 1757 na Rua São Pedro, o do Rosário, instalado ao lado da igreja de mesmo nome na Praça Melo Viana e o da Corte Real. Sabará possui um dos mais notáveis acervos de igrejas setecentistas de Minas:

·        *  Nossa Senhora do Ó de 1717, uma das mais representativas do barroco mineiro, possui influência chinesa em sua arquitetura externa e na decoração interna, o seu nome é devido às ladainhas de Nossa Senhora que sempre começam com o Ó e seguem com algum louvor ou agradecimento;
        * Nossa Senhora da Conceição de 1710, matriz da cidade, localizada na praça Getúlio Vargas (cidade antiga);

·              * Nossa Senhora do Carmo de 1763, com várias obras de Aleijadinho;

·       * Nossa Senhora das Mercês de 1781  dos homens pardos, com linhas arquitetônicas simples, sem ornamentações internas, mas localizada em lugar privilegiado na composição da paisagem urbana;

·          *Nossa Senhora do Rosário de 1713, inacabada pelos escravos da irmandade dos homens negros da Barra do Sabará, os quais a construíam e pararam por falta de recursos;

·          * São Francisco de 1781, além de várias capelas.

 

 


Em nossas andanças na sexta-feira à tarde e noite e no  sábado de manhãzinha pudemos conhecer boa parte delas e também o Museu do Ouro, criado pelo então Presidente Getúlio Vargas em 23 de abril de 1945, na antiga Casa da Real Intendência do Ouro de Sabará que foi uma das mais importantes da região das Minas Gerais devido à sua área de abrangência e volume de produção de ouro. Não poderíamos deixar de comentar do almoço delicioso no Restaurante Quintal do Ouro, especialmente da excelente receptividade da proprietária, Cristiane Silva, que gentilmente nos forneceu muitas informações sobre a cidade.

Conforme planejado, no sábado partimos para o município vizinho de Caeté. Uma estradinha extremamente sinuosa que segundo nos disseram possuía mais de 200 curvas. O  passei foi tão bonito que perdi a conta. Fato é que no meio do caminho nos deparamos com uma barragem. De acordo com informações há ainda intensa atividade mineradora na região com extração de ouro. Rapidinho chegamos em Caeté, onde paramos na igreja Matriz para umas fotografias e partimos para o Santuário da Serra da Piedade.

O Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade está localizado a 48 km da capital mineira e a 16 km do município de Caeté e é um cenário de riquíssima beleza natural,  a 1746 metros de altitude. Ideal para a reflexão, oração e o encontro com Deus, o Santuário que abriga a Padroeira de Minas.

Do alto do Santuário, em dias claros, é possível ter uma das mais belas vistas das montanhas de Minas. São 360 graus de panorama, com mil e uma facetas da beleza que só a mãe natureza oferece de maneira tão generosa, inspirando a conduta humana.

Passamos ali uma tarde super gostosa, admirando tamanha beleza, contemplando, orando e refletindo sobre a nossa insignificância nesse mundo maravilhoso com que Deus nos proporcionou. Já no finalzinho da tarde retornamos para Sabará, extasiados com o maravilhoso passeio.

Para comemorar a viagem perfeita, à noite fomos ao Restaurante 314 Sabarabuçu. Após tomarmos uma cervejinha e comermos um saboroso peixe frito subimos para a Praça Melo Viana onde acontecia um belíssimo show da Orquestra de Ouro Preto com a cantora Fernanda Takai. O projeto denominado “Tom da Takai” está em turnê por Minas Gerais com apresentações gratuitas em praças públicas que levam a Bossa Nova de Tom Jobim e a música orquestrada, um encontro que encantou um grande público que ali estava e esse casal estradeiro.

Dia seguinte era hora de voltar para casa. Após o café, nos despedimos de Dona Sônia, a dona da Pousada e seguimos nosso caminho. O GPS dessa vez fez gracinha com a minha cara, mas após algumas informações retomamos nossa rota e de tardinha já estávamos em casa cansados mas super felizes com a viagem. Agora é aguardar a próxima aventura.